APRENDI A CANTAR A
NATUREZA
PESQUISANDO A
HISTÓRIA DO SERTÃO.
AUTORES: VALDIR TELES
E RAIMUNDO CAETANO.
APRENDI A CANTAR
VENDO UM CHIQUEIRO
ENTUPIDO DE BODE E DE
MARRAN,
UM VAQUERIRO
ORDENHANDO DE MANHÃ,
UM SUINO FUÇANDO NO
TERREIRO,
VINTE OU TRINTA
GALINHAS NO POLEIRO,
UM BICHANDO DORMINDO
NUM FOGÃO,
UM JUMENTO ESPOJANDO
NO OITÃO
E UM CACHORRO DEBAIXO
DE UMA MESA
APRENDI A CANTAR A
NATUREZA
PESQUISANDO A
HISTÓRIA DO SERTÃO.
NO SERTÃO A FARTURA
AS VEZES DOBRA
QUANDO A MÁQUINA DA
CHUVA FUNCIONA,
MILHO VERDE, JERIMUM,
FEIJÃO, MAMONA,
TODA CASA DO SÍTIO
TEM DE SOBRA.
QUANDO O TEJO É
MORDIDO PELA COBRA,
METE O DENTE NO
TRONCO DE UM PEÃO,
RECEBE O LEITE QUE
SERVE DE INJEÇÃO
CONTRA O LÍQUIDO QUE
A COBRA TEM NA PRESA
APRENDI A CANTAR A
NATUREZA
PESQUISANDO A
HISTÓRIA DO SERTÃO.
APRENDI VENDO AS
SERRAS CACHIMBANDO
E OS ANÕES CAMINHANDO
ATRÁS DO GADO,
BARRO E LAMA NAS
LÂMINAS DO ARADO
E UMA VACA LEITEIRA
RUMINANDO,
A BONECA DE MILHO
ENCABELANDO
UNS TRÊS PALMOS
ABAIXO DO PENDÃO
URUBUS NAS ESTACAS DE
PLANTÃO
PRA FAZER A MERENDA E
A LIMPEZA
APRENDI A CANTAR A
NATUREZA
PESQUISANDO A
HISTÓRIA DO SERTÃO.
EM LAGOA, RIACHO, RIO
E POÇO
A TRAIRA CONSTRÓI SUA
MORADA
SE A QUINTURA DO SOL
NÃO LHE AGRADA
O PURÃO DO AÇUDE É UM
COLOSSO
É O PEBA UM TRATOR DE
CARNE E OSSO
FAZ LAVANCA DA UNHA E
CAVA O CHÃO
PRA FAZER SUA PRÓPRIA
CONSTRUÇÃO
SEM GASTAR UM CENTAVO
DE DESPESA
APRENDI A CANTAR A
NATUREZA
PESQUISANDO A
HISTÓRIA DO SERTÃO.
APRENDI COM A LUTA DA
SAUVA,
OS CAROÇOS DO CORPO
DE UMA PINHA,
A QUIXABA MADURA, BEM
PRETINHA
PARECENDO A VESTE DE
UMA VIUVA
A FARTURA TRAZIDA
PELA CHUVA
QUE PASSOU ACABANDO A
SEQUIDÃO
DANDO UM BASTA NAS
CRISES DO VERÃO,
DESMONTANDO O CENÁRIO
DE TRISTEZA
APRENDI A CANTAR A
NATUREZA
PESQUISANDO A
HISTÓRIA DO SERTÃO.
LÁ TEM COISA QUE A
GENTE SÓ PERCEBE
CONTEMPLANDO A
SUPREMA ENGENHARIA
NINGUÉM VER UMA BURRA
DANDO CRIA
NEM GALINHA URINAR
DEPOIS QUE BEBE
A DSCARGA DA LUZ QUE
O CÉU RECEBE
QUANDO DEUS LIGA A
MÁQUINA DO TROVÃO
UMA PROVA QUE O PAI
DA CRIAÇÃO
NUNCA FOI SUPERADO NA
GRANDEZA
APRENDI A CANTAR A
NATUREZA
PESQUISANDO A
HISTÓRIA DO SERTÃO.
APRENDI RECEBENDO A
BRISA MORTA
COM ESSÊNCIAS DE
FLORES DE JUREMA
LÁ TAMBÉM APRENDI QUE
A SIRIEMA
DESAFINA NA VOZ, MAS
NÃO SE IMPORTA
AS SEMENTES BROTANDO
NUMA HORTA
O BICUDO ESTRAGANDO O
ALGODÃO
A RAPOSA DE OLHO NO
CAPÃO
E O TETÉU PASTORANDO
UMA REPRESA
APRENDI A CANTAR A
NATUREZA
PESQUISANDO A
HISTÓRIA DO SERTÃO.
SEM TER NÍVEL,
COLHER, PRUMO E ESCADA
JOÃO DE BARRO
TORNOU-SE UM ARQUITETO
APRENDEU COM JESUS
FAZER PROJETO
PRA DEPOIS CONSTRUIR
SUA MORADA.
NA BELEZA DA PENA
DESENHADA
OUTRA AVE NÃO GANHA
DO PAVÃO
FOI PINTADA COM TANTA
PERFEIÇÃO
PRA NÃO SER SUPERADO
NA BELEZA
APRENDI A CANTAR A
NATUREZA
PESQUISANDO A
HISTÓRIA DO SERTÃO.
APRENDI CAM AS VAGES
E ESPIGAS
QUE NOS ANOS DE SAFRA
SÃO VINGADAS
O TAPETE DE FOLHAS
PINICADAS
NA TESOURA AMOLADA
DAS FORMIGAS
COMO O FOGO INVISÍVEL
DAS URTIGAS
QUE NA PELE PROVA
IRRITAÇÃO
A GARAPA QUE PEGA O
GAVIÃO
QUANDO ENCONTRA A
NINHADA SEM DEFESA
APRENDI A CANTAR A
NATUREZA
PESQUISANDO A
HISTÓRIA DO SERTÃO.
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